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Carta Capital - 18/01/2016 às 19:10:42

A hepatite C e seus tratamentos

Milhões de brasileiros atualmente são infectados pela hepatite C. Silenciosa, progressiva e potencialmente fatal, a hepatite C agora tem uma série de tratamentos cada vez mais eficazes. No número recente da New England Journal of Medicine, três importantes estudos clínicos foram publicados com o tema controle e cura da doença. Sobre o assunto conversamos com o doutor Esper Kallas (foto), infectologista e imunologista, professor livre-docente da USP.


CartaCapital: A hepatite C preocupa no Brasil?

Esper Kallas: Sim. O Brasil tem mais de 1 milhão de pessoas que vivem com o vírus que provoca a hepatite C. Embora algumas dessas pessoas não tenham problemas de saúde, há um número significativo que pode desenvolver a hepatite que é mais agressiva, cirrose e até câncer de fígado. É muito importante identificar se o vírus da hepatite C está em uma pessoa. Se é positiva, deve fazer exames regulares e, dependendo da situação, submeter-se ao tratamento.

CC: Como são os tratamentos correntes no Brasil e qual a eficácia deles?

EK: O tratamento vem passando por revolução. Até muito pouco tempo atras, as pessoas tinham de se submeter a tratamentos prolongados que envolviam injeções, com remédios que causavam muitos efeitos colaterais e tinham baixa taxa de sucesso. Isso significa que muitos precisavam se tratar várias vezes e ainda assim não ficavam livres do vírus. Os remédios recentes são todos na forma de comprimidos, usados por períodos mais curtos e com taxas de sucesso extraordinárias.

CC: O que há realmente de novo? 

EK: Os três trabalhos publicados na NEJM avaliam o tratamento com duas drogas: sofosbuvir e velpatasvir. Em dois dos estudos a taxa de sucesso foi de 99% nos pacientes com hepatite C crônica, muito superior aos tratamentos antigos. O terceiro trabalho mostrou que em pacientes com hepatite crônica que já desenvolveram cirrose deve ser adicionada a ribavirina, com taxa de sucesso de 94%.

CC: O que pode ser considerado um avanço significativo em relação aos tratamentos correntes atuais?

EK: A eficácia é extraordinária. O avanço é, portanto, bastante significativo. Mas é importante dizer que há uma série de novos remédios sendo lançados com propriedades semelhantes. Outras combinações estão mostrando que podemos atingir taxas de sucesso parecidas com essas, o que deve forçar a competição de diversos produtores por espaço no mercado de uso dos novos antivirais contra a hepatite C.

CC: Quem seriam os melhores candidatos a esses tratamentos novos?

EK: É importante dizer que não há pressa em começar o tratamento. A hepatite C é uma doença de evolução muito lenta e a maioria dos pacientes pode esperar. A exceção são os pacientes que já têm doença em estágio avançado (cirrose) ou que mostram sinais de avanço rápido para cirrose. Outro grupo que deve buscar tratamento mais rápido são as pessoas que também vivem com o HIV, o vírus causador da Aids, já que a hepatite pode ser mais agressiva. O julgamento das prioridades é feito pelo médico com o paciente.

CC: Quais são as complicações e os efeitos colaterais?

EK: Os novos remédios estão associados a uma frequência muito baixa de efeitos colaterais. Nada chega próximo ao que presenciávamos com os tratamentos antigos.

CC: E o custo desses tratamentos?

EK: É o principal problema. O custo dos novos remédios é excessivo e há muita reclamação e protestos, tanto no Brasil quanto nos países desenvolvidos. Acho que haverá uma acomodação dos preços num futuro próximo, já que diferentes indústrias farmacêuticas estão lançando produtos com finalidade e eficácia comparáveis . A competição deverá reduzir os custos, mas isso deverá levar um tempo.

CC: Qual a disponibilidade para pacientes brasileiros?

EK: O  Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde lançou, em 2015, um plano para acesso aos novos remédios para tratamento da hepatite C. Trata-se de um dos mais ambiciosos programas de acesso a tratamento em serviços públicos de saúde do mundo. A primeira leva de remédios começou a ser distribuída, mas o Ministério da Saúde precisa continuar se empenhando para tornar o tratamento possível para um número ainda maior de pacientes.







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