As novas tecnologias e medicamentos tornaram-se mais efetivas contra cada determinado tipo de tumor, mas o processo de descoberta dessas terapias encarece o produto final. “O que aconteceu na última década é que a biologia molecular e o estudo genético ficaram baratos o suficiente para detectarmos alterações nas células tumorais a ponto de definirmos o tratamento específico. Conseguimos olhar o alvo e quase que desenhar uma molécula capaz de destruir a célula tumoral. Só que essas drogas chegam caras ao mercado, primeiro porque elas são muito específicas, então não têm venda em larga escala, e segundo porque a indústria argumenta que teve as despesas de várias pesquisas até chegar a uma molécula eficaz”, explica Riad Younes, diretor do centro de oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O especialista explica que, tanto no aspecto terapêutico quanto no financeiro, é preciso ter certeza de quais pacientes, de fato, terão benefício com esses medicamentos. “Essas drogas são extremamente caras e não funcionam para todo o mundo. É importante investigar caso a caso para selecionar o doente que vai se beneficiar. Caso contrário, vamos usar armas muito poderosas em uma situação desnecessária”, diz.
Não por acaso, as drogas mais modernas - e caras - demoram anos para serem incorporadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Nos últimos anos, a situação tem aumentado o número de demandas judiciais por medicamentos contra órgãos governamentais.
No Estado de São Paulo, por exemplo, a estimativa é que seja gasto R$ 1,2 bilhão neste ano para atender aos pedidos de tratamentos feitos via Justiça. Segundo o secretário da Saúde, David Uip, cerca de 70% desse valor será gasto com imunobiológicos usados no tratamento oncológico. “Isso é uma das coisas com que tenho enorme preocupação. O que ocorre é que o tratamento contra o câncer está mudando e avançando, mas essas drogas custam muito caro e nem a medicina pública nem a privada têm recursos para isso. Vamos ter de repensar o sistema e buscar outras formas de financiamento.”
Desespero
Ingressar com uma ação judicial foi a única saída encontrada pela autônoma Letícia Fernandes Campos, de 22 anos, para buscar uma nova opção de tratamento para sua doença, um linfoma de Hodgkin.
Diagnosticada em 2013, a jovem já havia passado por diferentes tipos de quimioterapia, radioterapia e autotransplante de medula, mas, em todas as vezes, o câncer voltou a aparecer após alguns meses.
“Sempre fiz tratamento pelo SUS, tentei todas as opções, mas, em agosto de 2015, o câncer voltou de novo e eu não tinha mais o que fazer. Só tinha um medicamento que podia me ajudar, mas ele não estava disponível no SUS. As 16 aplicações do remédio custam de R$ 500 mil a R$ 600 mil. Foi aí que decidi entrar na Justiça”, conta ela.
A ação foi movida em janeiro, mas a aplicação do remédio só foi iniciada no mês passado, após decisão judicial favorável. “Foram momentos de desespero, você vê todas as portas fechando, as possibilidades se esgotando, e parece que o sistema público não está nem aí. Se eu não tivesse corrido atrás, nada seria feito. Tive amigos que nem tiveram tempo para isso, morreram antes”, afirma.
Para Riad Younes, o Brasil deve investir em estratégias de prevenção e detecção precoce para evitar casos de câncer mais avançados, justamente os que precisam de tratamentos mais caros. “Aqui no Brasil, além de termos pouco dinheiro, a gente gerencia mal. A prevenção não é levada muito a sério. É muito mais barato prevenir um câncer de pulmão do que tratá-lo, por exemplo”, afirma.
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