Hoje, Dia Mundial da Hepatite, a atenção dos governos é desproporcional ao tamanho do problema. Desde 2013, o número de mortes pela hepatite viral é superior a soma total de mortes por outras três epidemias: aids, tuberculose e malária. Mas a atenção dos governos e da mídia ainda não despertou para dar as hepatites virais a necessária visibilidade. As hepatites causadas por vírus são a sétima causa de morte no mundo, sendo as hepatites B e C responsáveis por 95% das mortes. A maioria é atribuível ao câncer de fígado e cirrose. Existe vacina efetiva para prevenir a hepatite B e medicamentos que curam a hepatite C, no entanto, em contraste com a aids, a tuberculose e a malária, mecanismos para financiar intervenções em países pobres são praticamente inexistentes, exceto para os indivíduos que também estão infectados com o HIV. O aumento do financiamento internacional é necessário para enfrentar a carga das hepatites que possam permitir respostas eficazes nos países de baixa renda.
(FOTO: divulgação/site Saúde e Géia)
O peso das hepatites B e C, as mais mortais, varia nas regiões geográficas. A mortalidade causada pela hepatite C é maior na Europa, Oriente Médio, Américas e África do Norte, enquanto que na África Subsaariana e grande parte da Ásia as mortes são consequência da prevalência da hepatite B. Os medicamentos para cura da hepatite C são caros, mas o preço para tratar os infectados é inferior as despesas que ocasionará não tratar a doença e ter que cuidar num futuro próximo as suas complicações, como a cirrose, o câncer de fígado e a necessidade de transplantes de fígado. Um terço dos infectados, se não tratados, morrem em média aos 56 anos, uma perda de 17 anos de vida produtiva!
O Brasil nos últimos anos passou a dar maior atenção as hepatites virais. O Ministério da Saúde por meio do Departamento DST/AIDS/Hepatites Virais possui um plano estruturado e políticas definidas, mas ainda incipiente quanto a recursos. É estimado que existam 2,3 milhões de brasileiros com hepatite C e cerca de 1 milhão com hepatite B. Encontrar esses infectados rapidamente é o grande desafio. Aproximadamente 80% dos infectados não têm conhecimento da sua infecção. Uma vez diagnosticados, o tratamento passa a ser o seguinte passo, ainda mais desafiador. O tratamento da hepatite B, transmitida principalmente pelo sexo, ainda não tem cura. Possui efetivo controle com um tratamento simples de um comprimido ao dia, e a forma comprovadamente efetiva para evitar novos infectados é vacinar toda a população.
Na hepatite C, a transmissão sexual é muito rara de acontecer, não tem vacina, mas um tratamento que em somente 12 semanas consegue curar 95% dos infectados. O problema é o preço do medicamento. Nos países ricos cada tratamento custa entre 84 e 150 mil dólares. O Ministério da Saúde compra de forma centralizada conseguindo negociar descontos que no ano passado alcançavam 90% e na compra que deverá ser anunciada nos próximos dias, o desconto é superior a mais de 95% do preço original, o menor preço entre os países em desenvolvimento, um exemplo de negociação colocado como modelo pela Organização Mundial da Saúde.
Neste Dia Mundial da Hepatite deixo a sugestão para que os planos de saúde diagnostiquem e tratem as hepatites B e C. É absurdo que praticamente todos os tratamentos sejam realizados gratuitamente no SUS, inclusive os dos 50 milhões de brasileiros com planos de saúde. Se entendemos os planos de saúde como uma saúde suplementar, por que os planos não passam a tratar as hepatites B e C e o governo fornece os medicamentos? Estaríamos dessa forma ajudando a melhorar a superlotação dos hospitais públicos, deixando os mesmos para os brasileiros mais carentes e a saúde privada seria realmente suplementar.
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