Entidades e autoridades de saúde têm alertado e recomendado a população a não realizar os testes rápidos para diagnóstico de infecções causadas por SARs-CoV-2 (coronavírus), pois o resultado pode ser falso negativo, dependendo do tempo em que o teste for feito.
Para as pessoas que tenham convivido com outra infectada ou para aquelas que têm os sintomas mais leves da doença ou que são assintomáticas, o ideal é fazer o teste rápido de 10 a 14 dias após ser infectada, tempo em que já foram produzidos os anticorpos que vão atestar a doença.
Uma das melhores maneiras de controlar a epidemia seria a testagem rápida do maior número de pessoas possível, a fim de se identificar e isolar pacientes contaminados. Contudo, a falta de especificidade e sensibilidade dos testes rápidos, que são baseados na detecção de anticorpos IgM/IgG, podem acarretar em falsos resultados negativos para infecção por coronavírus.
A advertência é da farmacêutica bioquímica do Grupo Técnico de Análises Clínicas do CRF/MG, Karine Silvestre Ferreira, doutora em Ciências Farmacêuticas (Análises Clínicas/ Hematologia Clínica) pela UFMG, mestre em Biologia Celular pela mesma instituição e professora adjunta no Centro Universitário UNA.
1) Qual a importância da testagem laboratorial para a detecção da infecção por coronavírus? Por que o governo está testando prioritariamente os profissionais da saúde?
A testagem laboratorial massiva para a detecção da infecção por coronavírus é importante por dois motivos: primeiro porque ela identifica e coloca em isolamento a pessoa infectada, impedindo que essa dissemine o vírus a outras e, em segundo lugar, porque uma vez infectada e curada a pessoa possui anticorpos e passa a ser resistentes a Covid-19. (Essa informação ainda precisa ser confirmada, com testes mais a longo prazo pós-infecção, para saber qual o grau dessa imunidade, por quanto tempo ela perdura, se ela realmente é real, pois ainda é cedo para falar.)
Dessa forma ela não dissemina a doença e pode circular com maior segurança.
A testagem de profissionais da saúde é imprescindível para se garantir a força de trabalho destes profissionais e também evitar a contaminação de outros colegas e pacientes, caso estejam contaminados.
2) Em que se baseia o teste RT PCR e por que ele é o mais indicado para o diagnóstico laboratorial e detecção do SARS-CoV-2?
O teste RT (Real Time) PCR detecta o RNA viral. É um teste molecular, extremamente sensível, que consegue detectar em pequeno período de infecção, até 24 horas após o contágio. Assim ele fornece resultados mais seguros para a detecção da infecção, mesmo nos primeiros dias após o contágio, quando os sintomas podem ainda não ter se manifestado.
Comparados aos testes rápidos, que são baseados na detecção de anticorpos, o RT PCR possui alta especificidade e sensibilidade, é um teste mais caro, que exige equipamentos laboratoriais específicos e profissionais habilitados para a análise.
3) Como é o método de detecção utilizado nos testes rápidos? Já existem testes rápidos validados e registrados na Anvisa?
Os testes rápidos são baseados na detecção de anticorpos IgM e IgG produzidos pelo organismo, após alguns dias da infecção. Dessa forma, a assertividade desses testes depende da intensidade e da velocidade da resposta imunológica de cada organismo.
O Ministério da Saúde autorizou a importação de testes rápidos de diversas marcas, concedendo registro provisório na Anvisa. Contudo, o uso dos testes deve ser feito com amplo critério, tanto por laboratórios, quanto por pacientes.
Se utilizados no momento certo, eles podem auxiliar na confirmação de novos casos, mas se usados sem critério, podem gerar um problema epidemiológico ainda maior.
4) Por que os testes rápidos e ELISA, disponíveis para a detecção de anticorpos IgM/IgG, decorrentes da infecção por SARS-CoV-2, podem gerar falsos resultados negativos?
Alguns pacientes podem demorar de 10 a 14 dias para apresentar no organismo anticorpos tituláveis, passíveis de serem detectados pelos testes rápidos. Dessa forma, existe um elevado risco de uma testagem falso negativa. Ou seja, o paciente está contaminado, mas não foi possível diagnosticar pelo teste rápido.
Isso pode fazer com que pacientes infectados não sejam colocados em isolamento ou não recebam o monitoramento e tratamento adequados para a doença.
5) Caso o paciente teste negativo, mas continue apresentando os sintomas da doença, o que deve ser feito?
O diagnóstico sintomatológico faz parte dos protocolos para a notificação de casos suspeitos de CoVid-19. Mesmo quando o teste rápido diagnosticar negativo, pacientes com sintomas de infecção por coronavírus devem ser monitorados e colocados em isolamento. Recomenda-se que novo teste tipo RT PCR seja realizado ou o teste rápido para detecção de anticorpos, alguns dias após a testagem inicial.
Em todos os casos pacientes com suspeita de CoVid-19 devem ser encaminhados imediatamente para avaliação médica.
6) Qual a atual recomendação para detecção laboratorial da infecção? Com quantos dias e quais amostras devem ser testadas?
O ideal é fazer o RT PCR oriundo de coleta de secreção salivar até 48 horas, assim que o paciente começar a ter suspeita de infecção. Pode acontecer de o paciente ser assintomático e só testar positivo na análise de anticorpos após 10 a 14 dias.
7) Como o farmacêutico deve orientar o paciente que vai até ele com sintomas leves ou que acha que foi contaminado por alguém que se infectou?
É muito importante que o farmacêutico oriente sobre:
-O isolamento, o distanciamento social. Dizer para os que podem ficar em casa, permanecerem em casa para não propagar a contaminação;
-Recomendar o uso de máscaras todas às vezes que a pessoa for sair;
- Lembrar que as máscaras de pano/tecido devem ser trocadas a cada duas horas. Ao retirá-la, colocá-la num saco plástico, vedar bem e ao chegar em casa, lavá-la ;
-Orientar os pacientes do grupo de risco, como os idosos, cardiopatas, diabéticos, os que fazem uso de imunossupressores, para tomarem cuidado redobrado;
-Orientar os mais jovens a evitar aglomerações e passeios.
Para saber mais sobre o assunto acesse:
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANÁLISES CLÍNICAS. NOTA TÉCNICA Sobre a não detecção do SARS CoV 2 por RT PCR em pacientes com COVID-19.
Organização Panamericana de Saúde. Key informationaboutlaboratorytestsfor COVID 19.
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