PONTAS E HASTES
Em razão dessas e outras limitações é que se recomenda hoje a vacina para grupos específicos (idosos e crianças pequenas, por exemplo) e que se busca um modelo de imunização universal. O foco dos estudos é uma proteína (hemaglutinina), que fica na superfície do influenza e que permite a sua fixação às células do sistema respiratório.
Segundo o virologista Celso Granato, professor da Unifesp (Federal de SP), as atuais vacinas têm como alvo a ponta dessa proteína. Ocorre que ela sofre mutações constantes, o que leva a vacina a ser reformulada todos os anos.
Imagine que o vírus seja uma bola com vários pirulitos espetados nela. A ponta (o doce) muda todos os anos, mas as hastes permanecem estáveis e são iguais em todos os casos de gripe.
É nessa haste que os estudos sobre as novas vacinas têm se fixado. "O potencial a médio prazo é grande. Basta que se consiga estabilizar a parte não variável do vírus para que seja reconhecida pelo sistema imune", diz Kallás.
Para Renato Kfouri, apesar de estudos sobre a vacina universal estarem "engatinhando", a necessidade é urgente. "É insano todo ano você predizer o vírus que vai circular, cultivar esse vírus em ovos, e, por fim, a vacina chegar a tempo de ser distribuída."
NOVO MODELO
Nos últimos anos, em busca de uma vacina universal, os pesquisadores já tinham tentado a estratégia de centrar esforços na parte não variável do vírus influenza. Mas, quando retiravam a parte que muda todos os anos, o restante ficava inviável para pesquisas.
No ano passado, porém, resultados de dois estudos foram bastante promissores. Cientistas americanos conseguiram reproduzir a haste (parte não variável) e acoplá-la a nanopartículas que serviram como esqueleto para manter a estabilidade do conjunto. A candidata a vacina foi testada em camundongos e furões. Os resultados mostraram que ela protegeu totalmente os camundongos e parcialmente os furões.
Uma outra linha de pesquisa envolveu um grupo da Holanda, que criou um antígeno chamado mini-HA, que demonstrou capacidade de imunizar camundongos e reduzir sintomas em macacos.
Em relação à produção, considerada antiquada –por envolver o cultivo do vírus em ovo, por exemplo– linhas de pesquisa buscam, dentro da engenharia genética, alternativas para modernizá-la.
"O método é contraproducente, caro, demanda custo de produção e operacionalização para distribuí-la. A meta é conseguir uma vacina que não precisa ser mudada a cada hemisfério, a cada temporada", diz o infectologista Renato Kfouri, vice da Sociedade Brasileira de Imunizações.